quarta-feira, 1 de março de 2017

O que é uma pirâmide financeira?


O primeiro golpe conhecido de pirâmide financeira aconteceu em 1870, na Espanha, criado por Baldomera LarraWetoret, uma mulher que havia sido abandonada pelo marido e lançou um sistema que remunerava 30% ao mês. Fez fama e fortuna, mas depois que o esquema ruiu, morreu pobre em La Habana, Cuba. O italiano Charles Ponzi foi seu seguidor e levou a ideia para os Estados Unidos nos anos 20, onde depois do sucesso inicial do golpe foi preso e deportado para a Itália. Morreu como indigente num hospital do Rio de Janeiro, décadas depois.
A pergunta que não quer calar: Mas qual é a linha divisória que separa uma pirâmide financeira de um legítimo trabalho de criação de redes em marketing multinível? Para os neófitos no assunto, nem sempre a resposta é fácil. Imagine se fosse criada uma nova empresa de sandálias havaianas, onde a taxa de adesão fosse de R$1.000,00, rendesse 60% ao mês sem precisar fazer nada e o novo distribuidor recebesse um par de sandálias apenas. E imagine que esta empresa tivesse CNPJ, endereço real, funcionários e até recolhesse impostos. Seria uma empresa “legal”, dentro da legislação atual? Mas seria também uma proposta de trabalho moral?
A resposta sobre legalidade x moralidade iria depender do país onde a tal empresa estivesse instalada. Se a sede fosse num paraíso fiscal, como Panamá ou Ilhas Cayman, provavelmente contaria até com incentivos do desgoverno local. Mas se estivesse sediada em países como os Estados Unidos ou Inglaterra, seus dirigentes seriam presos, amargando anos na prisão. Então, onde está a diferença? O critério é simples: basta verificar a origem do dinheiro para a remuneração aos distribuidores. Se os pagamentos dos bônus vierem da adesão paga pelas novas pessoas e não da comercialização de produtos/serviços trata-se de um esquema piramidal. Em países como EUA e Inglaterra existem organismos do governo – como a americana SEC – para detectar a formação de pirâmides inclusive no mundo das vendas diretas. Quando identificado o mecanismo piramidal a empresa é fechada com participação da polícia e seus responsáveis presos. O episódio mais recente foi o fechamento da Zeekwards, fechada nos EUA pela SEC, com participação do FBI.
Se a sede do hipotético marketing de sandálias havaianas fosse no Brasil, o esquema prosperaria e poderia tomar proporções nacionais. Isso porque não existe regulamentação para a atividade de marketing multinível no Brasil, portanto, a empresa das sandálias não poderia, a priori, ser acusada de fazer algo ilegal. Além disso a legislação contra pirâmides financeiras data dos anos cinquenta, quando os tempos eram outros sem, por exemplo, internet e redes sociais. Esta é a razão porque o Brasil tornou-se nos últimos anos o porto seguro para vigaristas internacionais, provenientes dos mais diferentes países, onde já haviam aplicado golpes semelhantes, além dos muitos meliantes nacionais ávidos pelo lucro fácil. Por causa da ausência de uma legislação mais rigorosa, em 2013 foram catalogados no Brasil nada menos que 64 esquemas piramidais, disfarçados de empresas de marketing. Todos eles cumprindo as pífias exigências de apenas ter um CNPJ, sede física, etc. E nada mais do que isso. Quer dizer, seriam todas empresas “legais”, mas não são morais, porque o lucro não vem de uma atividade produtiva e sim de uma especulação financeira baseada nas novas adesões. Numa época de tantas propostas de enriquecimento rápido no mundo do (falso) marketing, é difícil para o iniciante distinguir entre a luz e as trevas, entre o legal e o ilegal, entre o moral e o imoral. Um dos pontos que mais confundem os neófitos é o fato de que muitas vezes a pirâmide ter um produto ou serviço de fachada, para mascarar os reais procedimentos do esquema. O problema é que mesmo com produtos e serviços de fachada, os bônus pagos aos distribuidores vêm do dinheiro das novas adesões, como toda pirâmide que se preze. O ponto em comum entre todas as pirâmides, desde o início com Baldomera e Charles Ponzi, é prometer altos ganhos sempre com pouco ou nenhum trabalho. Mas o dinheiro só vem antes do trabalho no dicionário, onde a letra “D”,de dinheiro,vem antes da letra “T”, de trabalho. A favor do Marketing do Bem, existe o fato de que pesquisas demonstram que os esquemas piramidais têm duração média apenas de 18 a 24 meses. O primeiro que tornou-se “epidemia”nacional, com nome de passarinho em 2011 – precedido por muitos outros sem o mesmo sucesso – durou 20 meses fazendo 250.000 vítimas antes de sofrer infarto fulminante. Escrevo em 2013 quando há poucas semanas a Justiça do Acre suspendeu as atividades de um esquema piramidal que funcionava em todo o Brasil, com um suposto serviço de telefonia e que também está sendo investigado pelo Ministério da Justiça... depois de exatos 18 meses. Mesmo que seja conseguida uma liminar para a volta do funcionamento do esquema, será apenas uma sobrevida. De onde se depreende que nem tudo que é legal é moral; e tudo o que é imoral, pode terminar mal.

(Paulo de Tarso Aragão - Jornal Loucos Por Marketing)

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

"A caverna que você tem medo de entrar, guarda o tesouro que procura."
(Joseph Campbell)